Por que o homem não voltou a lua

Quando se fala no pouso do Homem na Lua, que aconteceu pela primeira vez com a Apollo 11 há cinquenta anos, muita gente ainda duvida que a NASA conseguiu este feito histórico naquela época, com teorias conspiratórias mil levantando "provas" de que tudo não passou de uma farsa muitíssimo bem elaborada. E, ainda que especialistas cansem de mostrar que seria impossível forjar as filmagens com as tecnologias da época, e também mesmo com provas de que a coisa aconteceu mesmo, incluindo observações feitas por outras agências espaciais que nada têm a ver com os Estados Unidos, os incrédulos permanecem com um ponto de interrogação em mente quando o assunto é o pouso de astronautas na Lua — isso quando não têm a "certeza" de que é tudo mentira, entre aspas mesmo.

Bom, para responder de maneira oficial por que os EUA não mandaram novos astronautas à Lua desde 1972, Jim Bridenstine, chefe da NASA, veio a público falando a respeito. Ele explicou por que o país suspendeu o programa lunar do século passado, e o que será necessário para que o novo programa lunar do momento avance.

A Apollo 17 foi a última missão a enviar astronautas à Lua, em 1972 (Foto: NASA)

Spoiler: está tudo relacionado a interesses políticos, que impactam diretamente em questões financeiras, já que a NASA é uma agência estatal e depende de verbas do governo para operar. "Há risco técnico e há risco político. Estaríamos na Lua agora se não fosse pelo risco político. Estaríamos em Marte, francamente, até agora, se não fosse pelo risco político", disse o administrador.

Ele continua: "Estou falando de financiamento. No passado, nos anos 1990 e início dos anos 2000, fizemos esforços para voltar à Lua e a Marte, mas em cada caso, o programa era muito longo e custava muito dinheiro". A NASA tentou voltar à Lua em décadas passadas, mas as missões previam uma longa duração, o que significava muito investimento, e os governantes que lideraram o país naquelas épocas acabaram não vendo vantagem em financiar retornos lunares quando a NASA vinha explorando outras partes do Sistema Solar. É como se a Lua tivesse "perdido a graça" aos olhos políticos por todas essas décadas.

E, claro, há também a questão do engajamento público nessa equação. No final do programa Apollo, com o último pouso na superfície acontecendo com a Apollo 17 em 1972, o público geral já não estava lá tão empolgado com o programa lunar, até porque já se havia passado três anos desde o histórico pouso da Apollo 11 — e naquela época o país lidava com duras consequências da Guerra do Vietnã, além do movimento pelos direitos civis, então os EUA estavam passando por um momento social, econômico e político bastante delicado. Neste contexto, muitos questionavam: "Por que continuar investindo em pousos na Lua, se já vencemos os soviéticos na Corrida Espacial, e se agora precisamos de investimentos urgentes em outras áreas para o bem geral da sociedade?".

O retorno à Lua e a bandeira fincada em Marte

Conceito de módulo lunar que poderá levar astronautas à Lua em 2024 (Imagem: NASA)

Aí para responder à questão "mas por que justo agora os EUA têm interesse na Lua de novo?", Bridenstine bateu na tecla do interesse político mais uma vez. Neste governo Trump, o vice-presidente Mike Pence foi quem pressionou a NASA para antecipar o programa Artemis, que visava o retorno presencial à Lua em 2028, mas a pressão mudou o cronograma para 2024.

"Agora, queremos voltar à Lua de forma sustentável, para ficar. Mas também temos que manter os olhos no que é o objetivo do presidente Trump. Qual a visão dele? Ele quer colocar uma bandeira estadunidense em Marte", disse o chefe da NASA.

Mas o que a Lua tem a ver com Marte? Ele explica: "então, nós vamos para a Lua, para que possamos aprender a viver e trabalhar em outro mundo e, em última análise, ter mais acesso ao Sistema Solar do que nunca, para que possamos chegar a Marte". Isso estava inicialmente previsto para 2033, mas especialistas contratados pela própria NASA afirmam que a ida dos primeiros astronautas ao Planeta Vermelho só será possível mais para o final da década, no mínimo.

E para viabilizar mais este plano audacioso, a agência espacial está nos finalmentes no desenvolvimento do foguete Space Launch System (SLS), que fará esses lançamentos, bem como a nave Orion, tripulável, que transportará até quatro astronautas por viagem. E outro passo importante desta escala Lua-Marte será a estação lunar Gateway, que ficará na órbita da Lua e será essencial para as futuras viagens ao Planeta Vermelho, servindo como "parada no meio da estrada" entre nosso planeta e seu vizinho mais próximo.

Além da ânsia de fincar logo uma bandeira dos EUA em Marte, com o país entrando mais uma vez para a história como a primeira nação a pisar na superfície de outro mundo, é fato que no momento estamos acompanhando uma nova Corrida Espacial — desta vez envolvendo também paíse europeus (com a ESA), Índia, China e Rússia. No entanto, enquanto a Corrida Espacial das décadas de 1950 e 1960 entre EUA e URSS era tensa e politicamente delicada em meio à Guerra Fria, a nova corrida da vez é mais amistosa, com incríveis avanços tecnológicos surgindo de todos os lados, e até mesmo parcerias internacionais estão acontecendo em prol da ciência. De qualquer maneira, EUA e China são rivais políticos ferrenhos nos dias de hoje, e isso também deve ser considerado.

E quanto a esta nova Corrida Espacial, Rod Pyle, historiador da exploração espacial que já trabalhou com a NASA, diz o seguinte: "Eu me junto a Buzz Aldrin na esperança de que as proeminentes nações [com programas espaciais] possam um dia juntar forças para levar os humanos de volta à Lua e também a Marte em uma cooperação pacífica". Afinal, o espaço, apesar de ser uma área de permanente rivalidade, também cede espaço para colaborações essenciais para o avanço científico e tecnológico, como é o caso dos foguetes e naves russas Soyuz, que vêm levando astronautas dos EUA à Estação Espacial Internacional desde 2011, quando a NASA encerrou o programa dos Ônibus Espaciais.

Com informações de Moon Daily

Fonte: Canaltech

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  • Paul Rincon - @rincon_p
  • Editor de Ciência do site da BBC News

10 novembro 2021

Por que o homem não voltou a lua

Crédito, NASA

Legenda da foto,

Starship, da empresa SpaceX, deve levar astronautas à Lua pela primeira vez desde 1972

A primeira missão da Nasa (agência espacial americana) desde 1972 para levar humanos à superfície da Lua foi adiada para 2025, um ano depois da previsão anterior.

Poucos analistas acreditavam que a Nasa conseguisse cumprir o prazo de 2024, dada a redução de verbas e disputas judiciais em torno do veículo de pouso.

O adiamento foi confirmado a jornalistas pelo chefe da agência espacial, Bill Nelson, na manhã desta quarta-feira (10/11).

No programa Artemis, a Nasa enviará a primeira mulher e o 13º homem à superfície lunar.

Bezos x Musk

A missão também envolve uma disputa judicial entre os dois homens mais ricos do mundo.

Um juiz federal dos Estados Unidos manteve recentemente uma decisão da Nasa de conceder o contrato à empresa SpaceX, de Elon Musk, para construir um veículo de pouso lunar para a missão à Lua.

O fundador da Amazon, Jeff Bezos, contestou a decisão, em parte porque argumenta que o contrato deveria ter sido concedido a mais de uma empresa envolvida no processo de licitação. A empresa de Bezos, Blue Origin, fez parceria com três outras empresas aeroespaciais para concorrer ao prestigioso contrato de pouso.

Legenda da foto,

Planos da Nasa incluem início da ocupação da superfície lunar

No entanto, uma redução do financiamento da Nasa pelo Congresso americano impossibilitou essa partilha, segundo justificativa publicada pela agência espacial na época do anúncio do contrato. A Nasa recebeu apenas US$ 850 milhões (R$ 4,6 bilhões) dos US$ 3,3 bilhões (R$ 18,1 bilhões) que pediu ao Congresso dos EUA para construir a plataforma de pouso na Lua.

Bezos chegou a se oferecer para bancar US$ 2 bilhões (mais de R$ 10,3 bilhões) dos custos da Nasa em troca de participar do contrato de construção de um veículo de pouso na Lua.

O chefe da Nasa atribuiu parcialmente o atraso da missão de pouso ao imbróglio judicial.

"Retornar à Lua o mais rápido e seguro possível é uma prioridade da agência. No entanto, com o processo judicial recente e outros fatores, o primeiro pouso humano no programa Artemis provavelmente não ocorrerá antes de 2025", disse.

Mas analistas têm apontado desde o ano passado que o problema de financiamento do módulo de pouso é o que tornou insustentável a previsão anterior da missão, para 2024.

Se a decisão judicial da semana passada for mantida por outros tribunais, uma versão da nave da SpaceX, atualmente em teste no Texas, será o veículo usado para transportar a tripulação até a superfície lunar em 2025.

A primeira missão do programa Artemis está programada para decolar em fevereiro de 2022. A Nasa lançará a espaçonave Orion no poderoso foguete Sistema de Lançamento Espacial (SLS) sem pessoas a bordo.

Durante esta missão, Orion voará ao redor da Lua em uma viagem de três semanas para testar seus sistemas.

Legenda da foto,

Transporte da tripulação deve ficar a cargo no gigantesco foguete SLS

O primeiro voo com astronautas, batizado de Artemis-2, acontecerá em 2024, disse o chefe da Nasa.

O passo seguinte, a Artemis-3, será a primeira missão a retornar à superfície da Lua desde a Apollo 17, em 1972. Ela deve pousar no polo sul lunar, que supostamente contém grandes reservas de água gelada em crateras que nunca recebem a luz do sol.

Em tese, o gelo nessas crateras poderia ser usado para fazer combustível para foguetes, reduzindo o custo da exploração lunar.

O programa também verá a primeira pessoa não branca pousar na Lua, embora não esteja claro se isso acontecerá durante a Artemis-3 ou em uma missão lunar posterior.

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