O que podemos saber sobre o funcionamento do mundo

Ler faz bem! Todo mundo já ouviu ou disse essa frase, provavelmente mais de uma vez. Esse é um daqueles lugares-comuns que não se esgotam. Já repetimos muito isso por aqui, mas é fato consumado que ler é ótimo para o cérebro e para os estudos – a sua inteligência agradece, e a aprovação no vestibular também. 😉

Se você ainda não tem esse hábito, comece já! Não é difícil aprender a gostar de ler, e você só tem a ganhar com isso. A ciência explica como um costume simples pode melhorar seu cérebro e também a sua vida. Continue lendo para saber como.



1. Melhora o funcionamento do cérebro

São inúmeras as pesquisas que comprovam que ler aumenta as conexões neurais, fazendo com que o cérebro funcione melhor. É como fazer ginástica, só que para a cabeça! Além disso, uma pesquisa da Universidade Emory, dos EUA, descobriram que ler afeta nosso cérebro como se realmente tivéssemos vivenciado os eventos sobre o qual estamos lendo. 

Outro estudo dos EUA também descobriu que a redução do funcionamento do cérebro, na velhice, pode ser reduzida em cerca de 30% se a pessoa mantiver hábitos de leitura, além de proteger contra doenças como o mal de Alzheimer. Ler também faz com que a receptividade à linguagem aumente no cérebro – o que facilita na hora de aprender um idioma novo, por exemplo.

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2. Estimula a criatividade

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Você fica mais inteligente quando lê muito, e também melhora a escrita e seu vocabulário. Disso você já sabe. Outra habilidade que se desenvolve mais é a da criatividade: quando lemos um livro em estilo romance, por exemplo, a capacidade de imaginar o cenário em que a ação se desenvolve, além da imagem física dos personagens, leva a criar um outro mundo dentro de nossas cabeças.

O mais legal é sempre buscar ler livros que mostrem uma época muito diferente da nossa – um clássico inglês do século 19, por exemplo – ou um outro mundo, literalmente – experimente as versões em livro de sucessos da fantasia, como Harry Potter, O senhor dos aneis ou Game of Thrones. Com toda a certeza sua mente vai viajar e você voltará à sua realidade como se tivesse de fato visitado outro planeta. 😛

3. Incita o senso crítico

Por que o mundo é como é? Por que você pensa como pensa? Perguntas do tipo são comuns quando você começa a questionar a vida e a sociedade, ou seja, quando começa a desenvolver seu senso crítico. O mais incrível da literatura é que, nos introduzindo a realidades e épocas diferentes, ela acaba suscitando reflexões que talvez não teríamos se ficássemos sempre presos ao nosso cotidiano e à nossa rotina fixa. Ler abre a mente, e isso pode te tornar uma pessoa melhor. Provavelmente, também por causa do próximo – e último – item.

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4. Provoca empatia

Empatia é uma capacidade bastante em falta no mundo, e consiste basicamente em compreender e se solidarizar, emocionalmente, com um outro alguém. E um estudo publicado na revista Psychology Today provou que a leitura tem esse exato efeito: aumentar nossa capacidade de sentir empatia. A razão é um pouco óbvia: quando estamos lendo, nos conectamos com a realidade de outro alguém (mesmo que seja fictício) e podemos entender o que é ser aquela outra pessoa. Literalmente, sabemos o que é estar no lugar dela e que tipo de sentimentos essa pessoa têm, talvez tão diferente de nós mesmos.

Outro estudo pode parecer mais familiar a você, leitor: uma pesquisa feita na Itália mostrou que os jovens que leram Harry Potter são menos preconceituosos e têm mais probabilidade de se solidarizar com minorias sociais, como homossexuais, negros e imigrantes. Por quê? Por conta da associação feita entre a luta de Harry contra o preconceito pelos bruxos nascidos “trouxas” e os grupos marginalizados da vida real.

Sobrou alguma dúvida de que ler é maravilhoso? 😉

Ludwig Wittgenstein (1889-1951) foi, sem dúvida, um dos filósofos mais influentes do século 20 e o principal responsável pela chamada virada linguística da filosofia, movimento que colocou a linguagem no centro da reflexão filosófica, deixando de figurar apenas como um meio para nomear as coisas ou transmitir pensamentos.

Em Wittgenstein, como em Sócrates, vemos um filósofo que procura viver coerentemente com suas crenças filosóficas. Ele recusou a fortuna de sua família e trabalhou em funções humildes, como ajudante de jardineiro em um mosteiro e porteiro em um hospital.

Em sua trajetória intelectual, Wittgenstein foi capaz de realizar uma profunda revisão de sua própria teoria, a tal ponto que muitos estudiosos de sua obra filosófica a dividem em dois períodos: o "primeiro Wittgenstein", que corresponderia ao seu "Tractatus Logico-Philosophicus", publicado em 1921, e o "segundo Wittgenstein", cuja obra principal é "Investigações Filosóficas", publicada postumamente.

Embora se tratem de "dois wittgensteins", que influenciaram escolas filosóficas diferentes, a linguagem permanece o tema principal de sua reflexão e o que fornece unidade a sua obra.

Tractatus Logico-Philosophicus

No "Tractatus Logico-Philosophicus" - um conjunto de aforismos e corolários divididos de 1 a 7 -, Wittgenstein tenta romper com a visão tradicional da filosofia, que vê o mundo como um mero agregado de coisas que podem ser pensadas de modo independente umas das outras. Tal visão não é incorreta, apenas incapaz de explicar qual a relação existente entre as coisas.

As coisas, por si só, não têm sentido, pois elas ganham significado quando relacionadas com outras coisas. Da mesma forma como não conseguimos pensar em algo fora do espaço e do tempo, "também não podemos pensar em nenhum objeto fora da possibilidade de sua ligação com outros" (Tractatus, 2.0121).

Para que algo possa ter significado é preciso que apareça dentro de uma relação com outros objetos em um determinado estado de coisas. Estar ligado a um estado de coisas é, ao mesmo tempo, a condição para que um objeto possa aparecer e ser pensado.Com as palavras acontece a mesma coisa. Elas só adquirem significado quando inseridas em uma frase, pois somente as frases podem ser consideradas verdadeiras ou falsas. Dizer, por exemplo, "cadeira" é algo que carece de complemento para se tornar uma unidade significativa. É somente quando tenho uma frase como "a cadeira está na cozinha" que posso dizer se essa proposição é verdadeira ou falsa.

Eu não poderia, porém, saber se uma frase é ou não verdadeira se ela não correspondesse à estrutura do mundo, ou seja, a ordem das coisas no mundo. Mas como a linguagem pode representar a estrutura do mundo?

Conexão entre palavras e objetos

Para Wittgenstein isso só seria possível se existisse uma correspondência entre o mundo, o pensamento e a linguagem. Dito de outra maneira, se houvesse uma correspondência entre a figuração do mundo na linguagem e o próprio mundo afigurado.Como explica Wittgenstein, "na figuração e no afigurado deve haver algo de idêntico, a fim de que um possa ser, de modo geral, uma figuração do outro". (2.161). "O que a figuração deve ter em comum com a realidade para poder afigurá-la à sua maneira - correta ou falsamente - é a sua forma de afiguração" (2.17). Portanto, não basta que exista uma correspondência entre a palavra e a coisa designada, pois nas frases falsas também se fala sobre objetos. Caso contrário, elas não seriam falsas, mas apenas absurdas.

O que determina a verdade ou falsidade é se a conexão entre as palavras na proposição é igual à conexão entre os objetos no mundo, isto é, deve haver uma identidade entre a estrutura das coisas e a estrutura do pensamento. O que permite que a linguagem possa corresponder ao mundo é que ambos partilham da mesma forma lógica. A forma lógica é, portanto, a condição de possibilidade da afiguração.

Mas como Wittgenstein pode demonstrar isso? Como pode ele provar que pensamento, linguagem e mundo têm a mesma forma lógica? Aqui chegamos a um ponto decisivo para a filosofia: segundo Wittgenstein, isso não pode ser demonstrado, é algo que apenas se mostra. Para demonstrar aquilo que se mostra através da linguagem e do mundo seria preciso uma teoria que se referisse à totalidade do mundo e da linguagem.

Isso é, no entanto, impossível, pois quando falamos sobre o mundo já estamos dentro da forma lógica e não há como vê-la de fora. "Para podermos representar a forma lógica, deveríamos poder-nos instalar, com a proposição, fora da lógica, quer dizer, fora do mundo" (4.12). Teríamos que colocar-nos, como diziam os medievais, no ponto de vista de Deus, algo que é igualmente impossível, a menos que o próprio Deus o revelasse para nós.

Função da filosofia: esclarecer pensamentos

Daí que as investigações sobre o sentido do mundo como totalidade não é assunto para o filósofo, mas para o místico: "O sentimento do mundo como totalidade limitada é o sentimento místico" (6.45). A filosofia não tem nada a dizer sobre a forma lógica, já que a forma lógica é a condição de possibilidade de toda e qualquer figuração e não pode, ela mesma, ser afigurada. A forma lógica não se explica, se mostra, e "o que pode ser mostrado não pode ser dito" (4.1212).Ao invés de especular sobre a totalidade do mundo e da linguagem, a filosofia deveria ocupar-se de uma função mais modesta: a de esclarecer a linguagem e ajudar a formular proposições claras. Nas palavras de Wittgenstein: "O fim da filosofia é o esclarecimento lógico dos pensamentos. (...) Cumpre à filosofia tornar claros e delimitar precisamente os pensamentos, antes como que turvos e indistintos" (4.112).

Assim, quando alguém quiser dizer algo de metafísico como "ser" ou "essência", explicar-lhe que não conferiu um significado preciso ao que diz e sugerir que ele reconstrua sua proposição. Os filósofos deveriam resignar-se ao sétimo aforismo do Tractatus que diz que "sobre aquilo que não se pode falar, deve-se calar".

Todavia, não deixa de ser curioso que o próprio Wittgenstein teve de se valer de proposições gerais e metafísicas para expor suas teses. Ele afirma, por exemplo, que a totalidade das proposições é a linguagem; que a proposição é uma figuração da realidade; que os limites do mundo são os limites da minha linguagem etc. Ou seja, ele não se limita ao que se mostra, mas pretende falar sobre como as coisas são em sua totalidade.

Assim, o seu Tractatus deve também ser entendido como uma pretensão de dizer algo de metafísico e, portanto, um contra-senso. Para sair dessa, Wittgenstein usa a genial analogia da escada que deve ser jogada fora após se subir por ela (6.54). A filosofia é essa escada que ele usou para descrever a estrutura lógica do mundo e da linguagem. Feito isso, sua função está praticamente encerrada e Wittgenstein, coerente com seu pensamento, preferiu mergulhar em um silêncio que durou vários anos a continuar a dizer mais contra-sensos.

"Minhas proposições" - diz Wittgenstein - "elucidam dessa maneira: quem me entende acaba por reconhecê-las como contra-sensos, após ter escalado através delas - por elas - para além delas. (Deve, por assim dizer, jogar fora a escada após ter subido por ela.)" (6.54).