Como garantir a aprendizagem no ensino remoto

Como garantir a aprendizagem no ensino remoto

Reinaldo em sala de aula, antes da pandemia, com seus alunos do curso pré-vestibular (Foto: Acervo pessoal)

Devido ao distanciamento social, medida mais eficaz para dispersar o contágio do coronavírus, diversas instituições de ensino tiveram que fechar suas portas e pensar em medidas emergenciais para garantir a continuidade do processo de ensino-aprendizagem dos alunos. Assim, buscando encontrar saídas que minimizassem os impactos dessa situação, universidades do mundo inteiro migraram suas aulas para a modalidade virtual. 

Naquele momento, o esforço era garantir que os estudantes tivessem acesso igualitário e de qualidade ao ensino. Contudo, a missão dada aos professores não foi fácil, já que muitos deles não estavam familiarizados com a nova realidade.

Dias melhores – É parafraseando a música da banda Jota Quest, que o professor Renaildo Conceição comenta sobre a sua perspectiva em relação ao contexto pandêmico: “vivemos esperando dias melhores, dias de paz, dias a mais, dias que não deixaremos para trás”. Para o docente, essa é uma etapa passageira, assim como outros dias ruins.

Tanto Renaildo, quanto Talamira Brito e Jonson Ney Dias relatam o prazer e os desafios de viverem experiências pessoais e profissionais intensas no período de pandemia da Covid-19. Professores que, no último ano, tiveram que se adaptar ao ensino remoto, longe do espaço físico e sem interação presencial com seus alunos.

Talamira Brito atua na educação há mais de 20 anos. Ela havia acabado de se apresentar ao Departamento de Filosofia e Ciências Humanas da Uesb após finalizar o seu pós-doutorado misto na Universidade de Valência, na Espanha, e na Universidade Federal de Uberlândia. A professora retornou à Vitória da Conquista com saudade da sala de aula e com muito entusiasmo para colocar em prática tudo o que foi aprendido durante seus dois anos de pesquisa voltados para a Educação. Mas, quando chegou à cidade, Talamira foi surpreendida com a medida de restrição de circulação. Naquele momento, ainda se acreditava que a doença seria controlada e não se transformaria em uma das maiores crises de saúde do mundo.

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Professora Talamira durante o pós-doutorado na Espanha, em 2019 (Foto: Acervo pessoal)

De aluno a professor – Já Renaildo Conceição estava colhendo os frutos dos seus anos de investimentos nos estudos. Recém-formado na licenciatura em Geografia da Uesb e aprovado no Programa de Pós-Graduação em Geografia, ele retornou à casa onde passou quatro anos durante a graduação para fazer o tão sonhado curso de Mestrado na área. Ainda em fase de comemoração pela aprovação, o mestrando foi surpreendido pela pandemia, quando estava ministrando aulas em curso particular de pré-vestibular e atuando como professor monitor do Programa Universidade Para Todos (UPT).

A partir de então, Renaildo passou a frequentar a sala de aula, tanto como aluno quanto como professor, da maneira que se tornou possível. Sem saber até quando tudo ia durar, ele começou a assistir às aulas do Mestrado de forma on-line e, no auge da sua vivência profissional, passou a atuar dando aulas de Geografia de forma virtual no UPT.

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Renaildo realizou a defesa de sua dissertação de Mestrado de forma remota

Ensino na era digital – Com Jonson não foi muito diferente. Professor do curso de Matemática, vinculado ao Departamento de Ciências Exatas e Tecnologia da Uesb, acostumado com as conversas nos corredores e o contato presencial com alunos do curso, a pandemia foi sentida com impacto em sua vida. O matemático conta que se viu de “calças curtas”, sem saber como enfrentar o momento. Se de um lado os alunos não sabiam como aproveitar os estudos na modalidade on-line, do outro, os professores estavam apreensivos, pensando em formas de contornar a situação e garantir o andamento do ensino, sem perder de vista o cuidado com a sua própria saúde mental e a dos estudantes.

O professor, que desde o início da sua graduação é familiarizado com pesquisas sobre tecnologias educacionais, se concentrou nas vantagens e desafios de inserir a ferramenta no ambiente acadêmico. Em sua leitura, algumas instituições tinham resistência, dificuldade ou falta de recursos para inserir o suporte digital. Para ele, era como se a tecnologia sempre “batesse na porta” da escola querendo entrar. “Agora, na pandemia, a gente viu que ela cansou de bater na porta, deu um chute e entrou de vez! A vinda da tecnologia transformou todas as práticas e o pensar pedagógico relacionado ao ensino”, avalia o docente.  

Por possuir experiência na área e desenvolver pesquisas sobre as tecnologias voltadas ao sistema educacional, o matemático relata que se sente mais confortável e seguro. Segundo ele, isso se deve às suas inquietações e à inserção da ferramenta nas aulas, grupos de pesquisas e cursos de extensão.

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Jonson apresentou sua pesquisa sobre as vantagens do uso da tecnologia na sala aula aliado ao ensino da Matemática em um Congresso Internacional que ocorreu no ano de 2019 (Foto: Acervo pessoal)

Alternativas e desigualdades – Em meados de 2020, a professora Talamira começou a ministrar uma das disciplinas do curso de Mestrado em Ensino na Uesb. Apesar de ser um público menor e mais avançado, naquele momento, não havia uma consolidação de como seriam as aulas remotas. A docente relatou que iniciou as aulas utilizando uma plataforma de reuniões on-line. “Fomos construindo, coletivamente, essa relação do não saber com o que sabemos. O não saber lidar que era uma relação compartilhada entre eu e os mestrandos, mas, ao mesmo tempo, o que cada um sabia para prosperar em um movimento melhor para realização da disciplina”, pontua.

Apesar de encontrar essa alternativa, Talamira relata que tudo tem sido difícil. Por ser uma pessoa com sinestesia, a professora conta que gosta de estar perto dos colegas e dos estudantes, e de viver seu espaço de trabalho. 

A necessidade de atividades remotas potencializou a desigualdade que se reflete nas salas de aula, pois nem todos possuem acesso de qualidade à internet e a equipamentos tecnológicos. Para Jonson, a tecnologia deve ser pensada como política pública. “O aluno é um ser tecnológico, ele usa redes sociais”, aponta. O professor ainda cita a gamificação. Nos últimos anos, os jogos passaram a ser utilizados como atributo para o ensinamento do conteúdo pedagógico dentro e fora da sala de aula.

Muita coisa mudou. Para Talamira, a história que envolve as conquistas da Educação Brasileira mostra que, durante todo esse tempo, a pasta foi vista com muita negação antes mesmo da pandemia. “A luta continua! Tento a todo momento levar esse debate para sala de aula, no intuito de que haja outros movimentos de reedificação”, finaliza. 

Você pode conferir o bate-papo completo com os três convidados no primeiro episódio do podcast “Com a Palavra – As vivências universitárias durante a pandemia”.