por Tiago Almeida “A matéria do homem junta-se à matéria do boneco, para uma transfiguração. A alma do homem dá ao boneco também uma alma e, nesta pureza, realizam um ato poético. “Hermilo Borba Filho [1917 – 1977]Escritor e dramaturgo pernambucano Histórico Os primeiros bonecos, que se tem notícia, no “Brasil Colônia”, são bonecos de luva portugueses e espanhóis. No século XIX, imigrantes germânicos trouxeram o seu teatro de títeres, o Kaspels Theater, também de luvas. As apresentações mais antigas de teatro de marionetes, no Brasil, foram mencionadas no Rio de Janeiro, no século XVIII, por Luiz Edmundo, no livro “O Rio de Janeiro no Tempo dos Vice-Reis”. Em Pernambuco surgem as primeiras apresentações do Mamulengo. Nas diferentes regiões brasileiras, o boneco de luva ou fantoche possui denominações diversas como: Briguela ou João Minhoca, em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro; Mané Gostoso, na Bahia; Mamulengo, em Pernambuco; e João Redondo, no Rio Grande do Norte e Paraíba. . Mamulengo “Só pode brincar mamulengo se for poeta. Se não for poeta não pode brincar”. Mestre Luiz da SerraMamulengueiro de Vitória de Santo Antão (PE). O Mamulengo é um teatro popular que teve sua origem em Pernambuco, bonecos de luva com técnicas de manipulação rápida e espetáculos populares, de improviso, com repentes e cordeis. Apresentado em praças, feiras e ruas, em uma linguagem provocativa, debochada e irreverente, com repertórios inspirados diretamente nos fatos do cotidiano popular e interagindo com o público que participava e também construía o espetáculo. Os personagens mais conhecidos foram: a Quitéria, o Cabo, o Coronel, o Simão, o Cangaceiro, o Padre, o diabo e as almas penadas. De acordo com Luís da Câmara Cascudo em seu “Dicionário do Folclore”, Mamulengo “é uma espécie de divertimento popular em Pernambuco, que consiste em representações dramáticas por meio de bonecos, em pequeno palco, alguma coisa elevado. Por detrás de uma empanada, esconde-se uma ou duas pessoas adestradas, e fazem que os bonecos se exibam com movimento e fala. A esses dramas servem ao mesmo tempo de assunto, cenas bíblicas e de atualidade. Tem lugar por ocasião das festividades da igreja, principalmente nos arrabaldes. O povo aplaude e se deleita com essa distração, recompensando seus autores com pequenas dádivas pecuniárias. Em outras regiões do país a “brincadeira” (como denominam os praticantes desta arte popular), adquire outras denominações como Babau, João Redondo, Cassimiro Côco etc“. A etimologia do termo “mamulengo” é controversa, presume-se que tenha origem na conjugação das palavras: mão e molengo, mão mole, mão que se move. A tradição ainda resiste no trabalho de diversos Mamulengueiros, principalmente nordestinos, que preservam essa forma popular de arte dramática, o Mamulengo: um teatro popular, de riso e de deboche Textos Relacionados: Mamulengo: o Teatro de Bonecos Popular no Brasil BABAU: O Teatro do Capitão João Redondo Transformações na Poética da Linguagem do Teatro de Animação por Valmor Beltrame CEART – UDESC 12/08/2011 11:34 A Magia dos Bonecos
Na América, o surgimento do Teatro de Bonecos aconteceu por volta do século XVI, época dos grandes descobrimentos, o que contribuiu muito para sua divulgação no mundo inteiro. Confeccionado muitas vezes, semelhante à nossa imagem, o boneco se torna um ser misterioso em torno do qual podemos construir um mundo. No palco toma vida própria através das mãos do manipulador, conta história e transforma a vida numa magia que muitas vezes nos faz sair da realidade pelo seu grande poder de sugestão. Toda a sua expressão se concentra no movimento. O TEATRO DE FANTOCHES, DE BONECOS OU DE MARIONETES é a expressão teatral que caracteriza as encenações realizadas, respectivamente, com fantoches, marionetes ou bonecos. Este instrumento teatral conferia aos seres que os utilizavam poderes mágicos, caracterizando-os como personas intermediárias entre os povos primitivos e seus deuses. As pessoas conferiam tal sacralidade ao fantoche que ele realmente parecia sustentá-las espiritualmente. Ao se tornar portador do fantoche, o personagem adquiria poderes que o convertia em um profeta, um ser sagrado, um exorcista. Portanto, somente um iniciado nos conhecimentos sacros poderia usar suas mãos para dar vida ao fantoche, em uma cerimônia especialmente preparada para essa encenação. Na era clássica os fantoches estavam dispostos principalmente dentro dos templos; eram bonecos de grande porte conduzidos igualmente durante as procissões de iniciação. Eles se desenvolvem particularmente a partir do século VII, com a adoção de estátuas semelhantes ao Homem. Estes fantoches que imitam as feições humanas são então escolhidos cada vez mais para estes eventos religiosos, assumindo um estilo que ainda hoje marca as representações do teatro de fantoches. Como esta modalidade lembrava demais os antigos ritos animistas, a Igreja começou a proibir as encenações dentro dos templos. Esta atitude deu origem aos teatros itinerantes, os quais reduziram o porte de forma a poder circular aqui e ali com suas representações, especialmente pelas ruas e em festas empreendidas no interior dos palácios. Ao longo do Renascimento eles são novamente resgatados no seio das Igrejas, apresentando-se também nos pátios residenciais e nas festas realizadas durante as feiras. A platéia se populariza e o teatro de fantoches assume uma postura mais satírica, impregnada de humor. Ele tem um papel importante nesse período, chegando até mesmo a preservar o Teatro Inglês quando este é interditado durante 18 anos. Seguindo a evolução histórica, os fantoches foram se transmutando conforme as necessidades de cada época, não se atendo jamais ao passado. Assim, eles estão sempre em metamorfose, constantemente assumindo novas formas. Esta modalidade teatral preserva sempre, porém, seu caráter ambulante, ao encenar seus espetáculos não só nos teatros convencionais, mas também nas ruas, nas praias, nos espaços ao ar livre diante das Igrejas.
FANTOCHES - bonecos de mão ou de luva Esse tipo possui corpo de tecido, vazio, que o manipulador veste na mão; ele encaixa os dedos na cabeça e nos braços para movimentá-los. A figura é vista só da cintura para cima e geralmente não tem pernas. A cabeça pode ser feita de madeira, papier-maché, ou borracha, as mãos são de madeira ou de feltro. O modo de operação mais comum é usar o dedo indicador para a cabeça, e o polegar e o dedo máximo para os braços. Esse é o típico show de fantoches apresentado ao ar livre por toda a europa.A vantagem do fantoche ou boneco de mão é a sua agilidade e rapidez; a limitação é seu tamanho reduzido e os movimentos de braços pouco eficientes. Em geral, o boneco de vara é adequado a peças de ritmo lento e solene, mas são muitas as suas potencialidades e grande a sua variedade. Porém é muito exigente quanto ao número de manipulares, exigindo sempre uma pessoa por boneco, e às vezes duas ou três para uma única figura.
TEATRO-DE-SOMBRAS Trata-se de um tipo especial de figura plana, utilizada para projetar sombras em um telão semitransparente. Podem ser recortadas em couro ou qualquer outro material opaco, como nos teatros tradicionais de Java, Bali e da Tailândia, além do tradicional "sombras chinesas" da Europa do século XVIII; nos teatros tradicionais da China, Índia, Turquia e Grécia, e em diversos grupos modernos da Europa, as figuras podem ser recortadas também em couro de peixe ou em outros materiais transparentes. Elas podem ser operadas por baixo, com varas, como no teatro javanês; com varas que ficam em ângulo reto com a tela, como nos teatros chinês e grego; ou por meio de cordões escondidos atrás dos bonecos como nas sombras chinesas. O teatro de sombras não precisa se limitar a figuras planas. Ele pode lançar mão também de figuras tridimensionais. |