O talco e riscado pela calcita e risca a gipsita qual a ordem de dureza dessas substâncias

Uma das dificuldades enfrentadas pelos colecionadores de minerais que n�o s�o ge�logos ou engenheiros de minas � a identifica��o das pe�as de sua cole��o. Alguns minerais s�o bastante comuns na natureza e no com�rcio, sendo por isso bem conhecidos dos colecionadores. Outros, por�m, s�o muito procurados n�o pela beleza, mas pela raridade, e podem n�o ser de f�cil identifica��o.

Quando a pe�a � adquirida por compra obviamente j� vem identificada. Mas, infelizmente, muitas lojas n�o oferecem seguran�a nesse aspecto, pois �s vezes n�o sabem exatamente o que est�o vendendo ou sabem mas n�o escrevem o nome corretamente. Isso � comum em lojas do Brasil.

O que fazer? H� dois caminhos: um � procurar algu�m que entenda do assunto, como um ge�logo ou pelo menos um colecionador muito experiente; outro � o pr�prio colecionador tentar identificar o mineral, com o uso de manuais, dicion�rios ou guias de mineralogia. O Museu de Geologia do Servi�o Geol�gico do Brasil - CPRM, em Porto Alegre (RS), oferece servi�o gratuito de identifica��o de minerais e faz doa��o de minerais e rochas a escolas.

Tentar identificar minerais � uma tarefa que pode ser dif�cil, mas que ser� cada vez mais f�cil � medida que se for adquirindo experi�ncia. Nas orienta��es a seguir, vamos tratar da identifica��o de minerais no estado bruto (n�o lapidados) e sem o uso de equipamentos ou an�lises sofisticadas.

Identifica��o pelas Propriedades F�sicas

A identifica��o de minerais pelo exame a olho nu utiliza as propriedades f�sicas das pedras e, como exce��o, o comportamento quando atacado pelo �cido clor�drico (tamb�m chamado de �cido muri�tico) dilu�do e a frio.

S�o muitas as propriedades a examinar, como veremos a seguir. Os livros de mineralogia geralmente apresentam os minerais classificados pela composi��o qu�mica, iniciando com os elementos nativos (ouro, prata, diamante, enxofre etc.), que s�o os quimicamente mais simples, passando a seguir para os de composi��o cada vez mais complexa (sulfetos, cloretos, sulfatos, carbonatos, silicatos e assim por diante).

Essa maneira de apresenta��o � racional, mas pouco pr�tica quando se trata de determinar uma esp�cie desconhecida. Para isso, s�o prefer�veis aquelas que agrupam os minerais de acordo com uma ou duas propriedades f�sicas e, ent�o, levando em conta outras caracter�sticas, v�o reduzindo o leque de possibilidades, at� chegar a uma s� esp�cie ou a pelo menos algumas poucas.

Um exemplo desse tipo de obra � "Introdu��o � Mineralogia Pr�tica" (veja a refer�ncia bibliogr�fica completa no final), que agrupa os minerais conforme o brilho e a cor do tra�o. Aqueles com mesmo tipo de brilho e mesma cor de tra�o s�o ent�o diferenciados por dureza, clivagem, h�bito etc. (veja adiante o significado dessas propriedades).

Equipamentos para Determinar as Propriedades F�sicas

Antes de descrever as propriedades dos minerais, � importante saber os equipamentos que todo colecionador deve possuir. S�o coisas simples e baratas.

  • Canivete ou outra l�mina de a�o;
  • pequena (poucos cent�metros) placa de porcelana branca fosca (n�o esmaltada);
  • �m� (pequeno), preso a um fio fino e bem flex�vel, como uma linha de costura;
  • lupa que aumente 10 vezes (menos do que isso � pouco, mais do que isso � desnecess�rio). Use a lupa perto do olho e aproxime o mineral dela at� v�-lo com nitidez; e
  • frasco com �cido clor�drico dilu�do a 10% (90% de �gua). Esse �cido � vendido em lojas de material para constru��o sob o nome de �cido muri�tico. Ver qual � a concentra��o e acrescentar �gua se necess�rio.

� importante tamb�m possuir pelo menos alguns dos minerais da Escala de Mohs, como quartzo, fluorita, calcita e ortocl�sio. O que � e como se usa a Escala de Mohs voc� ver� adiante, quando ler sobre a dureza dos minerais.

Se puder comprar uma l�mpada de luz ultravioleta, o colecionador ter� n�o apenas um recurso adicional para identifica��o de seus minerais, mas tamb�m um �timo passatempo, pois testar a fluoresc�ncia de minerais e de outras subst�ncias � uma atividade que encanta pelas surpresas que proporciona.

Propriedades F�sicas

S�o muitas as propriedades f�sicas usadas na identifica��o dos minerais. Cada esp�cie, por�m, tem aquelas que lhe s�o mais t�picas. Para algumas, � fundamental a cor (ex.: malaquita, azurita); para outras, densidade, cor e brilho (galena, por exemplo); algumas t�m como propriedade diagn�stica o magnetismo (ex.: magnetita, pirrotita) ou a clivagem (calcita, micas etc.). A pr�tica ensina o que cada esp�cie tem de mais caracter�stico.

Cor

Alguns minerais t�m cor vari�vel (minerais alocrom�ticos), mas outros t�m sempre a mesma cor (minerais idiocrom�ticos) e isso ajuda muito na sua identifica��o.

Por exemplo, a pirita � sempre amarela e a malaquita, sempre verde. J� o quartzo pode ser incolor (cristal de rocha), amarelo, laranja, vermelho (citrino), preto (m�rion), roxo (ametista), rosa, cinza, branco etc.

A cor deve ser observada numa superf�cie fresca, como a de uma fratura recente. A cor de alguns minerais altera-se facilmente. A bornita � rosada, mas ap�s poucos minutos em contato com o ar adquire belas cores azul-escura e p�rpura. A calcopirita � amarela, mas tamb�m adquire facilmente cores vermelha, azul e p�rpura misturadas. Nos dois casos, as cores surgem por oxida��o e aparecem apenas na superf�cie. Quebrando o mineral, v�-se a cor verdadeira.

Talco - Dureza 1.0Ortocl�sio - Dureza 6,0
Gipsita - Dureza 2,0Quartzo - Dureza 7,0
Calcita - Dureza 3,0Top�zio - Dureza 8,0
Fluorita - Dureza 4.0Cor�ndon - Dureza 9,0
Apatita - Dureza 5,0Diamante - Dureza 10,0

N�o estranhe a presen�a do talco nessa lista. Ele tamb�m � um mineral. A apatita � a subst�ncia que forma o esmalte dos nossos dentes e nada � mais duro que ela no nosso organismo. Ortocl�sio � um dos v�rios tipos de feldspato. Cor�ndon � uma esp�cie mineral que tem duas variedades famosas, o rubi e a safira.

O mineral que risca outro tem dureza maior (ou igual) que a do que foi riscado. Assim, o quartzo risca os feldspatos, a apatita, a fluorita etc. e � riscado pelo top�zio, pelo cor�ndon e pelo diamante. Ali�s, o diamante risca n�o s� todos os outros minerais da Escala de Mohs, mas todos os minerais conhecidos. E sua dureza (10,0) � muito maior que a do cor�ndon (9,0).

� importante lembrar que a dureza 4,0 n�o � o dobro da dureza 2,0, assim a apatita n�o tem metade da dureza do diamante. Nessa escala, a dureza n�o tem um crescimento uniforme e entre aos valores 9,0 e 10,0 a diferen�a � muito maior que entre 7,0 e 8,0 ou entre 3,0 e 4,0, por exemplo. A Escala de Mohs �, pois, uma escala de dureza relativa. Existem escalas de dureza absoluta, mas para us�-las s�o necess�rios equipamentos sofisticados.

� fundamental tamb�m saber que alta dureza � alta resist�ncia ao risco, mas n�o alta resist�ncia � fratura, tor��o ou deforma��o. O mineral dif�cil de quebrar, torcer ou amassar tem alta tenacidade, n�o alta dureza. O diamante tem dureza alt�ssima, mas baixa tenacidade. O jade, ao contr�rio, tem alta tenacidade, mas dureza apenas m�dia (entre 6,0 e 7,0).

O a�o, como o de um canivete ou tesoura, tem dureza em torno de 5,0. O vidro tamb�m tem dureza em torno de 5,0. Minerais que s�o riscados pela unha humana t�m dureza inferior a 2,0. A maioria das pedras preciosas tem dureza 7,0 ou maior.

Para fazer o teste de dureza, escolha uma superf�cie do mineral a ser testado que n�o esteja alterada (superf�cie fresca). N�o � necess�rio um risco grande, 2 ou 3 mm s�o o suficiente. Ap�s friccionar o material de dureza conhecida contra o mineral, remova as part�culas que ficaram soltas para ver se ele realmente foi riscado. As part�culas podem ser n�o do mineral que est� sendo testado, mas do mineral de dureza j� conhecida.

Transpar�ncia

Minerais de brilho met�lico s�o opacos (cromita, calcopirita, pirolusita) e a maioria das gemas s�o transparentes (ametista, citrino, turmalina, top�zio, granada) ou pelo menos transl�cidas (quartzo rosa, �gata). O mineral � transl�cido quando permite passar a luz, mas n�o se pode ver atrav�s dele com nitidez.

H�bito

Alguns minerais costumam ser encontrados como cristais bem formados. Ex.: pirita (cubos e outras formas), quartzo, berilo (prismas com seis faces verticais), granadas (gr�os de 12, 24 ou 36 faces). Outros raramente formam belos cristais (rodonita, rodocrosita, ouro etc.).

A morfologia dos cristais � descrita em todos os manuais de mineralogia, que chamam essa propriedade de h�bito. Minerais como o crisotilo t�m sempre h�bito fibroso, mas a calcita pode formar cristais com h�bitos (e cores) bem variados.

Clivagem

� a tend�ncia que t�m alguns minerais de quebrar sempre em determinadas dire��es. Ex.: mica, top�zio (uma dire��o), calcita (tr�s dire��es). Conforme essa tend�ncia seja mais ou menos acentuada, a clivagem � perfeita, boa, regular, m� etc.

Observando os cristais que t�m clivagem, pode-se ver fissuras em uma ou mais dire��es, indicativas de planos onde h� tend�ncia a quebrar. A foto ao lado mostra um cristal de calcita. As faces em degraus s�o consequ�ncia das tr�s dire��es de clivagem muito boa. Minerais como o quartzo n�o possuem nenhuma dire��o de clivagem, ou seja, a tend�ncia de quebrar � a mesma em todas as dire��es.

Densidade

H� minerais muito leves, como a epsomita (densidade 1,70), e outros muito pesados, como o ouro (19,30). Os escuros e de brilho met�lico costumam ser pesados. Os claros e transparentes costumam ser leves (o diamante e a barita, por�m, s�o claros, mas relativamente pesados). Qualquer pessoa dir� que a galena (densidade 7,5) � pesada. Mas a densidade de esp�cies como a fluorita (3,18) e o top�zio (3,55) chama a aten��o de pessoas com experi�ncia no manuseio de minerais.

Fluoresc�ncia e Fosforesc�ncia

Fluoresc�ncia � a luminosidade emitida por uma subst�ncia quando est� sob a a��o de uma radia��o invis�vel, como raios X ou luz ultravioleta. Um cristal de calcita colocado num ambiente escuro e sob a a��o de luz ultravioleta deveria permanecer escuro, uma vez que essa luz � invis�vel aos olhos humanos. Entretanto, ele fica alaranjado, pois � fluorescente. Uma opala cinza-azulada sob a a��o da mesma luz fica verde-clara (conforme as fotos abaixo).


Se ao cessar o efeito da radia��o invis�vel a luminosidade persistir, ainda que por poucos segundos, diz-se que a subst�ncia � fosforescente. Outros minerais fluorescentes s�o, por exemplo, a fluorita (da� vem a palavra fluoresc�ncia), a willemita, a franklinita e muitos diamantes.

Magnetismo

Alguns minerais s�o atra�dos por um �m� de m�o, o que ajuda na sua identifica��o. Dois exemplos s�o a magnetita (da� vem a palavra magnetismo) e a pirrotita. Para ver melhor se o mineral � magn�tico, amarre o �m� num fio fino e flex�vel e aproxime-o, assim pendurado, do mineral.

Rea��o ao �cido Clor�drico

H� subst�ncias que sob a a��o de uma gota de �cido clor�drico dilu�do a 10% e a frio d�o uma efervesc�ncia, liberando di�xido de carbono. Exemplos disso s�o a calcita, o coral, as p�rolas e a maioria das conchas. Como a calcita � um mineral muito comum, vale a pena ter esse �cido sempre � m�o. (Cuidado: uma gota de �cido clor�drico dilu�do n�o afeta sua pele, mas pode furar sua roupa.)

Outras Propriedades

H� v�rias outras propriedades �teis na identifica��o de minerais. Entre elas est�o radioatividade (ex. monazita), flexibilidade (ex. cobre, prata), elasticidade (ex. micas), sabor (ex. halita, calcantita), odor (ex. enxofre) e fratura (que pode ser serrilhada, irregular etc.).

Autor

P�rcio de Moraes Branco

Fonte

BRANCO, P�rcio de Moraes. Dicion�rio de Mineralogia e Gemologia. S�o Paulo: Oficina de Textos, 2008. 608 p. il.

DUDA, Rudolf & REJL, Lubos. La gran enciclopedia de los minerales. 2 ed. Praga: Susaeta, 1990. 520 p. il.

NEVES, Paulo C�sar P. das et al. Introdu��o � Mineralogia Pr�tica. 2 ed. Porto Alegre: Ulbra, 2008. 336 p. il.

Fotos

Minerais do Museu de Geologia da CPRM e da Cole��o P�rcio de Moraes Branco.

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